Brasile lontano da podio

Le lacrime di gioia di Lula al momento dell'assegnazione delle Olimpiadi a Rio de Janeiro, nell'ottobre del 2009, sono l'immagine sbiadita di una potenza emergente, sospinta dagli ottimi risultati economici, politici e sociali che ormai non c'e' piu'. Il Brasile odierno, a cento giorni dell'inaugurazione dei Giochi di Rio, e' molto diverso da quello di appena sette anni fa. La crisi morde, l'economia e' in recessione, l'inflazione e' ormai in doppia cifra, il mercato del lavoro ha fatto segnare la perdita di quasi due milioni di posti solo negli ultimi 12 mesi, i prezzi aumentano e l'impeachment della presidente di sinistra Dilma Rousseff appare sempre piu' inevitabile. Una congiuntura negativa che si riflette inevitabilmente anche sulle Olimpiadi: gli organizzatori hanno dovuto tagliare di 900 milioni di reais (circa 230 milioni di euro) il preventivo di spesa per l'organizzazione dei Giochi. I tagli hanno colpito soprattutto gli impianti e le costruzioni temporanee, mentre alcune opere sono state ridimensionate. La metro leggera, ad esempio, opererà esclusivamente da Ipanema a Barra, dove sorge il villaggio olimpico, senza fermarsi alle altre stazioni.
Cancellata definitivamente la prevista tribuna galleggiante nella laguna Rodrigo de Freitas, il cui livello di inquinamento e' sempre fuori controllo, per assistere alle gare di canottaggio. Le tribune ospiteranno 6 mila spettatori, contro i 14 mila previsti. A Londra i posti disponibili erano 25 mila. I soldi sono finiti. Il governo federale, impegnato in una lotta politica per la propria sopravvivenza, ha le casse vuote, mentre quello dello stato di Rio de Janeiro e sull'orlo della bancarotta. A complicare le cose ci si e' messa anche l'epidemia di zika, che sta facendo languire la vendita di biglietti per le gare di agosto. A tutto cio', si devono aggiungere i problemi endemici di corruzione, criminalita', traffico caotico e inquinamento. Senza contare le recenti minacce terroristiche dell'Isis, prese seriamente dalle autorita' locali, rivolte ad almeno dieci delegazioni (Usa, Francia, Gb e Israele in testa).
Come se non bastasse, nei giorni scorsi e' crollata una parte dell'avveniristica pista ciclabile costruita a strapiombo sul mare, non lontano da Casa Italia, e inaugurata solo tre mesi fa dal sindaco di Rio, Eduardo Paes, uccidendo due ciclisti amatoriali. I Giochi si disputeranno in quattro zone della capitale carioca: Barra da Tijuca, Copacabana, Maracana' e Deodoro. Complessivamente, gli impianti realizzati dove si assegneranno le medaglie sono 33, 14 dei quali ancora in costruzione. Quelli che hanno gravato di piu' sulle casse pubbliche sono il Parco Olimpico, costato 2,34 miliardi di reais (circa 600 milioni di euro) e la Vila dos Atletas (il villaggio olimpico), 2,9 miliardi di reais (725 milioni di euro).
Gli impianti piu' in ritardo sui tempi di consegna sono il velodromo, il centro acquatico, la cui capienza e' stata ridotta dai 18 mila posti previsti a 13.750, il centro ippico e quello del tennis. La presidente Dilma Rousseff ha assicurato nei giorni scorsi che quelle di Rio saranno ''le Olimpiadi piu' belle''. Ma e' molto probabile che la presidente non sara' in carica durante i Giochi e a capo del governo vi sia il suo vice, Michel Temer, uno dei politici meno amati del Paese e anch'egli a rischio impeachment. Se dovesse decadere anche Temer, toccherebbe al presidente della Camera, Eduardo Cunha, coinvolto in scandali di corruzione e accusato da Dilma di aver ordito l'impeachment per coprire i propri guai giudiziari. Tra una decina di giorni si sapra' chi assistera' dalla tribuna presidenziale del Maracana' alla cerimonia inaugurale del 5 agosto. Ma una cosa e' certa, chiunque sia verra' sommerso dai fischi dei brasiliani presenti, che reclamano a gran voce la fine di un sistema politico corrotto e autoreferenziale.
Fonte: Ansa
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10 mitos sobre a ditadura no Brasil



Se c'é una cosa che mi lascia sempre sorpreso, giusto per usare un eufemismo, qui in Brasile sono i discorsi di certa gente quando affermano, con convinzione, che sarebbe meglio avere di nuovo la dittatura. Ora lo so, anche in Italia molte persone anziane pensano che al tempo del fascismo si stava meglio. "Quando c'era lui si stava meglio", sono soliti dire. Io, grazie a Dio, non ho vissuto ai tempi della guerra né, tanto meno, in una dittatura, però non penso che siano stati tempi migliori. Anzi!

Penso che il  predominio assoluto e perlopiù incontrastabile di un individuo (o di un gruppo di persone [leggi militari]) che detiene un potere imposto con la forza sia sempre una cosa da evitare. Mi piace pensare, forse ingenuamente, che vivere in una democrazia come quella attuale sia la cosa migliore per tutti.

Ma come ho detto qui in Brasile, specialmente con questa attuale crisi politica ed economica, é molto facile trovare persone che la pensino diversamente. Questo é un articolo non molto recente (del 2014) che appunto parla e spiega, a mio parere in modo chiaro e convincente, che la dittatura in Brasile non é stata quella bella cosa che molti pensano.

Em 1964, um golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no Brasil. O regime autoritário militar durou até 1985. Censura, exílio, repressão policial, tortura, mortes e “desaparecimentos” eram expedientes comuns nesses “anos de chumbo”. Porém, apesar de toda documentação e testemunhos que provam os crimes cometidos durante o Estado de exceção, tem gente que acha que naquela época “o Brasil era melhor”. Mas pesquisas da época – algumas divulgados só agora, graças à Comissão Nacional da Verdade – revelam que o período não trouxe tantas vantagens para o país.

Nas últimas semanas, recebemos muitos comentários saudosistas em relação à ditadura na página da SUPER no Facebook. Em uma época em que não é incomum ver gente clamando pela volta do regime e a por uma nova intervenção militar no país, decidimos falar dos mitos sobre a ditadura em que muita gente acredita.

1. “A ditadura no Brasil foi branda”

Pois bem, vamos lá. Há quem diga que a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes latino-americanos. Países como Argentina e Chile, por exemplo, teriam sofrido muito mais em “mãos militares”. De fato, a ditadura nesses países também foi sanguinária. Mas repare bem: também foi. Afinal, direitos fundamentais do ser humano eram constantemente violados por aqui: torturas e assassinatos de presos políticos – e até mesmo de crianças – eram comuns nos “porões do regime”. Esses crimes contra a humanidade, hoje, já são admitidos até mesmo pelos militares (veja aqui e aqui). Para quem, mesmo assim, acha que foi “suave” a repressão, um estudo do governo federal analisou relatórios e propõe triplicar a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar. Ou seja: de 357 mortos e desaparecidos com relação direta ou indireta com a repressão da ditadura (segundo a lista da Secretaria de Direitos Humanos), o número pode saltar para 957 mortos.

2. “Tínhamos educação de qualidade”

Naquele época, o “livre-pensar” não era, digamos, uma prioridade para o regime. Havia um intenso controle sobre informações e ideologia – o que engessava o currículo – e as disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas por Educação, Moral e Cívica e por OSPB (Organização Social e Política Brasileira, uma matéria obrigatória em todas as escolas do país, destinada à transmissão da ideologia do regime autoritário). Segundo o estudo “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização) fracassou. O Mobral era uma resposta do regime militar ao método do educador Paulo Freire – considerado subversivo -, empregado, já naquela época, com sucesso no mundo todo. Mas os problemas não paravam por aí: com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. E faturaram também. Esse “sucateamento” também chegou às universidades: foram afastadas dos centros urbanos – para evitar “baderna” – e sofreram a imposição do criticado sistema de crédito.

3. “A saúde não era o caos de hoje”

Se hoje todo mundo reclama da “qualidade do atendimento” e das “filas intermináveis” nos hospitais e postos de saúde, imagina naquela época. Para começar, o acesso à saúde era restrito: o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento público, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. Ou seja, só era atendido quem tinha carteira de trabalho assinada. O resultado era esperado: cresceu a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. Essas instituições abrangeram, em 1976, a quase 98% das internações. Planos de saúde ainda não existiam e o saneamento básico chegava a poucas localidades, o que aumentava o número de doenças. Além disso, o modelo hospitalar adotado relegava a assistência primária a segundo plano, ou seja, para os militares era melhor remediar que prevenir. O tão criticado SUS (Sistema Único de Saúde) – que hoje atende cerca de 80% da população – só foi criado em 1988, três anos após o fim da ditadura.

4. “Não havia corrupção no Brasil”

Uma características básica da democracia é a participação da sociedade civil organizada no controle dos gastos, denunciando a corrupção. E em um regime de exceção, bem, as coisas não funcionavam exatamente assim. Não havia conselhos fiscalizatórios e, depois da dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram sequer analisadas, quanto mais discutidas. Além disso, os militares investiam bilhões e bilhões em obras faraônicas – como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço -, sem nenhum controle de gastos. Esse clima tenso de “gastos estratosféricos” até levou o ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, a declarar que “o problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”. Muito pouco se falava em corrupção. Mas não significa que ela não estava lá. Experimente jogar no Google termos como “Caso Halles”, “Caso BUC” e “Caso UEB/Rio-Sul” e você nunca mais vai usar esse argumento.

5. “Os militares evitaram a ditadura comunista”

É fato: o governo do presidente João Goulart era constitucional. Seguia todo à risca o protocolo. Ele chegou ao poder depois da renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice. Em 1955, foi eleito vice-presidente com 500 mil votos a mais que Juscelino Kubitschek. Porém, quando Jango assumiu a Presidência, a imprensa bateu na tecla de que em seu governo havia um “caos administrativo” e que havia a necessidade de reestabelecer a “ordem e o progresso” através de uma intervenção militar. Foi criada, então, a ideia da iminência de um “golpe comunista” e de um alinhamento à URSS, o que virou motivo para a intervenção. Goulart não era o que se poderia chamar de marxista. Antes de ser presidente, ele fora ministro de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e estava mais próximo do populismo. Em entrevista inédita recentemente divulgada, o presidente deposto afirmou que havia uma confusão entre “justiça social” – o que ele pretendia com as Reformas de Base – e comunismo, ideia que ele não compartilhava: “justiça social não é algo marxista ou comunista”, disse. Há também outro fator: pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe, em 31 de março, mostram que Jango tinha um amplo apoio popular, chegando a 70% de aprovação na cidade de São Paulo. Esta pesquisa, claro, não foi revelada à época, mas foi catalogada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

6. “O Brasil cresceu economicamente”

Um grande legado econômico do regime militar é indiscutível: o aumento da dívida externa, que permaneceu impagável por toda a primeira década de redemocratização. Em 1984, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Sim, mais da metade do que arrecadava. Se transpuséssemos essa dívida para os dias de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, ou seja, o quádruplo da atual dívida externa. Além disso, o suposto “milagre econômico brasileiro” – quando o Brasil cresceu acima de 10% ao ano – mostrou que o bolo crescia sim, mas poucos podiam comê-lo. A distribuição de renda se polarizou: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. Quer dizer, quem era rico ficou ainda mais rico e o pobre, mais pobre que antes. Outra coisa que piorava ainda mais a situação do população de baixa renda: em pleno milagre, o salário mínimo representava a metade do poder de compra que tinha em 1960.

7. “As igrejas apoiaram”

Sim, as igrejas tiveram um papel destacado no apoio ao golpe. Porém, em todo o Brasil, houve religiosos que criaram grupos de resistência, deixaram de aceitar imposições do governo, denunciaram torturas, foram torturados e mortos e até ajudaram a retirar pessoas perseguidas pela ditadura no país. Inclusive, ainda durante o regime militar, uma das maiores ações em defesa dos direitos humanos – o relatório “Brasil: Nunca Mais” – originou-se de uma ação ecumênica, desenvolvida por dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. Realizado clandestinamente entre 1979 e 1985, gerou uma importante documentação sobre nossa história, revelando a extensão da repressão política no Brasil.

8. “Durante a ditadura, só morreram vagabundos e terroristas”

Esse é um argumento bem fácil de encontrar em caixas de comentário da internet. Dizem que quem não pegou em armas nunca foi preso, torturado ou morto pelas mãos de militares. Provavelmente, quem acredita nisso não coloca na conta o genocídio de povos indígenas na Amazônia durante a construção da Transamazônica. Segundo a estimativa apresentada na Comissão da Verdade, 8 mil índios morreram entre 1971 e 1985. Isso sem contar as outras vítimas da ditadura que não faziam parte da guerrilha. É o caso de Rubens Paiva. O ex-deputado, cassado depois do golpe, em 1964, foi torturado porque os militares suspeitavam que, através dele, conseguiriam chegar a Carlos Lamarca, um dos líderes da oposição armada. Não deu certo: Rubens Paiva morreu durante a tortura. A verdade sobre a morte do político só veio à tona em 2014. Antes disso, uma outra versão (bem mal contada) dizia que ele tinha “desaparecido”. Para entrar na mira dos militares durante a ditadura, lutar pela democracia – mesmo sem armas na mão – já era motivo o suficiente.

9. “Todos os militares apoiaram o regime”

Ser militar na época não era sinônimo de golpista, claro. Havia uma corrente de militares que apoiava Goulart e via nas reformas de base um importante caminho para o Brasil. Houve focos de resistência em São Paulo, no Rio de Janeiro e também no Rio Grande do Sul, apesar do contragolpe nunca ter acontecido. Durante o regime, muitos militares sofreram e estima-se que cerca 7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram perseguidos, presos, torturados ou expulsos das corporações por se oporem à ditadura. No auge do endurecimento do regime, os serviços secretos buscavam informações sobre focos da resistência militar, assim como a influência do comunismo nos sindicatos, no Exército, na Força Pública e na Guarda Civil.

10. “Naquele tempo, havia civismo e não tinha tanta baderna como greves e passeatas”

Quando os militares assumiram o poder, uma das primeiras medidas que tomaram foi assumir a possibilidade de suspensão dos diretos políticos de qualquer cidadão. Com isso, as representações sindicais foram duramente afetadas e passaram a ser controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho, o que gerou o enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. Afinal, para que as leis trabalhistas vigorem, é necessário que se judicializem e que os patrões as respeitem. Com essa supressão, os sindicatos passaram a ser compostos mais por agentes do governo que trabalhadores. E os direitos dos trabalhadores foram reduzidos à vontade dos patrões. Passeatas eram duramente repreendidas. Quando o estudante Edson Luísa de Lima Souto foi morto em uma ação policial no Rio de Janeiro, multidões foram às ruas no que ficou conhecido com o a Passeata dos Cem Mil. Nos meses seguintes, a repressão ao movimento estudantil só aumentou. As ações militares contra manifestações do tipo culminaram no AI-5. O que aconteceu daí para a frente você já sabe.

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Agrotóxicos: o veneno que o Brasil ainda te incentiva a consumir


Come promesso ecco il secondo articolo sugli agro-tossici de "El País". Leggetelo con attenzione.

Brasil permite uso de pesticidas proibidos em outros países e exonera os impostos dessas substâncias


O morango vermelho e carnudo e o espinafre verde-escuro de folhas largas comprados na feira podem conter, além de nutrientes, doses altas demais de resíduos químicos. Estamos em 2016 e no Brasil ainda se consomem frutas, verduras e legumes que cresceram sob os borrifos de pesticidas que lá fora já foram banidos há anos. A quantidade de agrotóxicos ingerida no Brasil é tão alta, que o país está na liderança do consumo mundial desde 2008. A boa notícia, é que naquele mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou a reavaliação de 14 pesticidas que podem apresentar riscos à saúde. A má notícia é que até agora os estudos não terminaram.

A essa morosidade somam-se incentivos fiscais. O Governo brasileiro concede redução de 60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do PIS/COFINS (contribuições para a Seguridade Social) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) à produção e comércio dos pesticidas, segundo listou João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O que resta de imposto sobre os agrotóxicos representam, segundo Olenike, 22% do valor do produto. "Para se ter uma ideia, no caso dos medicamentos, que não são isentos de impostos, 34% do valor final são tributos", diz.
Recentemente, o consumo de agrotóxicos esteve novamente no centro da discussão.A apresentadora Bela Gil, que tem mais de 590.000 seguidores no Facebook, liderou um movimento para que a população se mostrasse contrária ao uso do carbofurano, substância usada em pesticidas em lavouras de algodão, feijão, banana, arroz e milho. Isso ocorreu quando a Anvisa colocou em seu site uma consulta pública sobre essa substância. Antes de Bela Gil publicar um texto engajando seus seguidores, o resultado se mostrava favorável à continuação do uso desse agrotóxico. Mas em poucas horas, a apresentadora conseguiu reverter o resultado da consulta, mostrando que os brasileiros querem que essa substância seja proibida também no Brasil, assim como já é em países como Estados Unidos, Canadá e em toda a União Europeia.
Por e-mail, a chefe de cozinha adepta da culinária natureba disse por que liderou a campanha. “Já existem estudos revelando a toxicidade e os perigos do carbofurano”, disse. “Essa substância é cancerígena, desregula o sistema endócrino em qualquer dose relevante e afeta o sistema reprodutor”. Na bula do produto consta a informação de que essa substância é “muito perigosa ao meio ambiente e altamente tóxica para aves”. Orienta o usuário a não entrar nas lavouras que receberam o produto por até 24 horas após a aplicação “a menos que se use roupas protetoras”.
A consulta pública faz parte do processo de reavaliação das 14 substâncias realizado pela Anvisa (veja o quadro abaixo). Desde o início dos estudos, em 2008, seis pesticidas foram banidos e dois foram autorizados a permanecer no mercado sob algumas restrições. Resta a conclusão dos estudos de outras seis substâncias - dentre elas o carbofurano. O glifosato, usado para proteger lavouras de milho e pasto, e que no ano passado foi considerado cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde, também está nesta lista que aguarda conclusões.
A demora para finalizar essa reavaliação fez o Ministério Público entrar com uma ação, em junho do ano passado, pedindo maior agilidade no processo. Na época, a Justiça acatou o pedido e estabeleceu um prazo de 90 dias para que todos os estudos fossem concluídos. Mas o setor do agronegócio também se moveu. O Sindicato Nacional das Indústrias de Defesa Vegetal (Sindivag) entrou com um recurso alegando que o prazo não era suficiente. Em nota, o Sindivag afirmou ser "favorável ao procedimento de reavaliação", mas que "o prazo concedido para conclusão da reavaliação não era suficiente para que fossem adotados todos os procedimentos previstos nas normas vigentes". O processo está agora na Justiça Federal, que informou não haver prazo para o julgamento.
Apesar da demora, as reavaliações dos agrotóxicos são um passo importante para a discussão do consumo dessas substâncias no Brasil. "A consulta pública da Anvisa sobre o carbofurano foi importante para que o órgão e os especialistas envolvidos obtivessem conhecimento do que a população pensa", diz Bela Gil. "A Anvisa pode se sentir mais inclinada a tomada de decisão de realmente banir esse agrotóxico".
Para Wanderlei Pignati, professor de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a lentidão desse processo ocorre porque há uma forte pressão de setores interessados na comercialização dessas substâncias. "As empresas querem fazer acordo, mas não deveria caber recurso", diz. "Queremos proibir todos os [agrotóxicos] que são proibidos na União Europeia", afirma. "Por que aqui são consumidos livremente? Somos mais fortes que eles e podemos aguentar, por acaso?".
Segundo João Olenike, do IBPT, os agrotóxicos deveriam ter altos tributos, e não ser isentos. "Existe uma coisa chamada extra-fiscalidade, que significa que, além da arrecadação, o tributo tem também uma função social", explica. "Por isso, tributa-se muito a bebida alcoólica e o cigarro: para desestimular seu consumo". Para ele, deveria-se fazer o mesmo com os pesticidas. "O que valia na década de 70, [quando foi lançado o Plano Nacional da Agricultura], não vale para hoje. O Governo deveria fazer uma revisão".
Fonte: El País
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O “alarmante” uso de agrotóxicos no Brasil


Abbiamo visto nel post precedente come qui in Brasile é comune fare uso di additivi e altre sostanze in tutti i prodotti alimentari. Questo può dare fastidio a chi, come me, ami la genuinità però é un problema sormontabile, dato che basta scegliere i prodotti giusti, leggendo per bene le etichette (anche se non sempre trovi scritto gli ingredienti) o "creando" da soli i vari prodotti (per esempio io la pasta all'uovo la faccio in casa, il sugo lo faccio con i pomodori, ecc.). Ma il problema sorge quando scopri che, sempre qui in Brasile, l'uso di pesticidi o agro-tossici é letteralmente smodato. Non é certo mia intenzione diventare paranoico e creare allarmismi esagerati, però i dati sono veramente preoccupanti. Il quotidiano spagnolo "El País" ha pubblicato due articoli molti interessanti dove mette in luce tali dati. Questo é il primo. Il secondo lo pubblicherò domani in un altro post, altrimenti diventerebbe troppo lungo e difficile da leggere. Buona lettura!

Imagine tomar um galão de cinco litros de veneno a cada ano. É o que os brasileiros consomem de agrotóxico anualmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). "Os dados sobre o consumo dessas substâncias no Brasil são alarmantes", disse Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"Isso sem contar os alimentos processados, que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados e cheios dessas substâncias químicas", diz Friederich. De acordo com ela, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas.

O uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras genéticas. Por causa da gravidade do problema, na semana passada, o Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato e que a agência determine o banimento desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do Ibama.

Enquanto isso, essas substâncias são vendidas e usadas livremente no Brasil. O 24D, por exemplo, é um dos ingredientes do chamado 'agente laranja', que foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.

O consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O produtor Rodrigo Valdetaro Bittencourt explica que o maior obstáculo para o cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos é encontrar mão de obra. "Não é preciso nenhum maquinário ou acessórios caros, mas é preciso ter gente para mexer na terra", diz.

OS ALIMENTOS MAIS CONTAMINADOS PELOS AGROTÓXICOS
Em 2010, o mercado brasileiro de agrotóxicos movimentou 7,3 bilhões de dólares e representou 19% do mercado global. Soja, milho, algodão e cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor. 

Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxicos:

Soja (40%)
Milho (15%)
Cana-de-açúcar e algodão (10% cada)
Cítricos (7%)
Café, trigo e arroz (3 cada%)
Feijão (2%)
Batata (1%)
Tomate (1%)
Maçã (0,5%)
Banana (0,2%)

As demais culturas consumiram 3,3% do total de 852,8 milhões de litros de agrotóxicos pulverizados nas lavouras brasileiras em 2011.

Fonte: El País

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Genuinità, questa sconosciuta

Molti pensano al Brasile come a un paese meraviglioso, con natura incontaminata, spiagge incantevoli e donne bellissime. Insomma, un vero Paradiso Terrestre. Peccato che, quando poi vai a vedere nel dettaglio, le cose siano molto differenti. Lasciamo perdere la questione dell'Eternit. Moltissime case, come la mia, hanno il tetto in questo materiale. E nessuno sta parlando di "favelas", ma di case in quartieri anche nobili. Qui tutti sono convinti che l'Eternit prodotto e venduto in Brasile sia diverso da quello del resto del mondo, che non faccia male. È inutile discutere con queste persone perché tanto non c'é modo di fargli cambiare idea, neanche mostrando i numerosi dati scientifici sulla pericolosità di tale elemento. Andiamo allora a vedere cosa mangiamo (noi che viviamo in Brasile).

La prima cosa che si nota é che qui hanno l'abitudine di inserire sempre un altro composto in ogni prodotto, anche in quelli piú semplici. Io ho fatto una semplicissima ricerca con alcuni prodotti che ho in casa e che uso tutti i giorni:

SPAGHETTI
Quando pensiamo alla nostra pasta italiana l'immagine che ci viene in mente é di un prodotto fatto con farina e acqua. Gli spaghetti brasiliani che la gente di solito consuma (non sto a dire qui la marca per ovvi motivi) contengono: Sêmola de trigo, ferro, ácido fólico, ovos, corantes naturais e cúrcuma. Bella porcheria, vero?

OLIO DI SOIA
È l'olio piú usato qui in Brasile, sia per friggere, cucinare o condire un'insalata. Anche qui uno cosa pensa? Che da una semplice operazione dei semi di soia si estragga quest'olio, nulla di piú. Sapete cosa invece contiene? Óleo de soja (geneticamente modificado), antioxidante e ácido cítrico. Sí, avete letto bene, geneticamente modificato.

FARINA
La classica farina bianca per fare torte e dolci? Farinha de trigo, ferro, ácido fólico.

POLENTA
Farinha de milho e ácido fólico.

Se vi dicessi cosa contiene la margarina, qui stra-usata, c'é il rischio che avrete gli incubi alla notte. 

Quelli che ho mostrato sono solo alcuni esempi di come vengono prodotti alcuni alimenti qui in Brasile. E non andiamo nemmeno a vedere quei prodotti industriali tipo biscotti, sughi giá pronti, ravioli e chi piú ne ha piú ne metta.

Ora qualcuno potrebbe obiettare che questi, in ogni caso, sono prodotti industriali che devono durare molto tempo sugli scaffali, quindi é normale che contengano molti prodotti chimici. Va bene, allora la prossima volta andremo a parlare di frutta e verdura, quella comunemente venduta al mercato, e vedremo come siano pieni di pesticidi.

Buon appetito!
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Jeitinho que mata


Tutti quelli che da qualche tempo seguono il mio blog sanno ormai che non ho una buona considerazione dei brasiliani. I motivi sono tanti e non sto qui a elencarli, ma una cosa che ho sempre affermato é che, secondo me, i brasiliani sono cattivi. Al di lá della loro (falsa) gentilezza, della loro (falsa) cortesia e collaborazione, dentro, nel loro animo, nel loro cuore, sono duri, violenti, in poche parole cattivi. Sará perché, al di lá di quello che scrivo, io sono una persona di cuore, che quando aiuta qualcuno lo fa senza secondi fini. Ma la maggioranza delle persone di qui sono esattamente il contrario. Ne ho le prove tutti i giorni.

Questo é un articolo della UOL su famoso "jeitinho brasileiro", in particolar modo sul modo di guidare e di "vivere" il traffico quotidiano. 

RÉGUA DA CIVILIDADE
Assumir riscos no trânsito é algo tão arraigado à personalidade do brasileiro que supera o instinto humano mais forte, o de sobrevivência. Ninguém se considera em perigo quando ultrapassa em local proibido, anda de bicicleta na contramão ou atravessa fora da faixa de segurança.

Mas essas pessoas deveriam se preocupar - ao menos um pouco. Uma pesquisa da Polícia Rodoviária Federal constatou que 97% dos acidentes em rodovias são provocados por falha humana - vale frisar que nem sempre é possível identificar a causa. Na cidade de São Paulo, esse mesmo fator, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), aparece em 98% dos registros com vítimas de acidentes fatais.

O massacre no asfalto é primordialmente consequência do desrespeito às normas de trânsito. Mas esse nível de imprudência não tem causa única, pois é também resultado da maneira como nossa sociedade foi formada: com aristocracia, privilégios, escravidão e machismo. Durante a Colônia e o Império, obedecer a qualquer regra era o comportamento esperado dos subalternos, não dos senhores.

Esse, digamos, "estilo de vida", vai contra a lógica das leis e equipamentos de trânsito comuns ao espaço público. O semáforo não abre mais rápido para um SUV blindado do que para Fusca enferrujado. O princípio de igualdade não deixa brecha para o "você sabe com quem está falando?". O choque da impessoalidade do trânsito dentro de uma sociedade personalista é, na opinião do antropólogo Roberto da Matta, a origem de toda essa agressividade e desobediência.

"Em uma República, sem dúvida, os sinais servem para todos. No Brasil, não obedecem. Você pergunta: por quê? Porque esse nosso problema não é com a desigualdade, nosso problema é quando você tem a igualdade"
Roberto da Matta, antropólogo

Muitas vezes essa maneira de ser, comumente chamada de "jeitinho", que acomoda parte das nossas raízes, entra em ação sem consequências imediatas ou em curto prazo. Há quem veja esse comportamento como um trunfo para a sobrevivência em meio a dificuldades. Mas quando esses "recursos" encaram as particularidades do trânsito, o que temos em troca é uma estatística que revela o grau de civilidade - ou falta dela - em uma nação.

Em 2013, por exemplo, o Brasil foi o quarto país do mundo em número absoluto de mortes no trânsito (43.869) e o 42º no ranking de mortes a cada 100 mil habitantes (22,5), segundo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse quadro é pior que o de países como Somália, Bangladesh e Haiti. Alguns registros domésticos são ainda mais alarmantes.

Da Matta realizou um estudo para entender os motivos de tanta violência no asfalto. O trabalho virou o livro “Fé em Deus e Pé na Tábua: ou Como e Por Que o Trânsito Enlouquece no Brasil”. A pesquisa aponta que as estatísticas são consequência de uma convivência mal resolvida de dois países dentro do Brasil. Um deles é herdeiro da Colônia e do Império, com os poderosos dispensados de seguir as leis - comportamento característico de quando havia um regime escravocrata no Brasil.

Esse sistema foi legitimado pelo Estado por quase quatro séculos. Deveria ter desmoronado com a abolição da escravatura, em 1888, e a proclamação da República, no ano seguinte. No papel, todos ficaram submetidos às mesmas regras, e estaria aberto o caminho para a formação desse outro país, no qual todos são iguais. Na prática, como sabemos, foi diferente.

Mas cabe ressaltar que não é uma questão de ricos opressores e pobres oprimidos. Seria uma simplificação rasteira. O motoboy não está no topo da pirâmide social, mas faz o motor roncar alto para o pedestre apressar o passo quando o sinal está prestes a abrir. Quem anda a pé não se constrange em "tourear" os carros para atravessar a rua fora da faixa.

A agressividade e desrespeito às leis para levar vantagem fazem parte do modo de encarar o espaço público no qual o trânsito está inserido. O sonho do brasileiro é ser aristocrata.

Quando declaram que no país nunca houve revolução social de verdade, apenas uma sucessão de oligarquias, é sobre mudanças dessa magnitude que estamos falando. Em princípio, pode parecer distante, mas tem tudo a ver com as mortes nas ruas e estradas.

A ideia da circulação irrestrita de pessoas é relativamente recente. Em São Paulo, começa na segunda metade do século 19 com a chegada de equipamentos urbanos como o bonde (1872) e a energia elétrica (1889). Antes disso, a metrópole dos congestionamentos intermináveis estava mais para uma cidade fantasma após o pôr do sol.

A professora do Departamento de Sociologia da USP (Universidade de São Paulo) Fraya Frehse conta que as novidades da época aportaram numa sociedade repleta de indicadores de classe social. Mesmo usando roupas bonitas e informando à qual família pertenciam, os negros não podiam usar sapato. Bengala e bigodes eram exclusivos dos fidalgos.

O bonde deveria permitir a ocupação do mesmo espaço físico, mas logo surgiu uma placa avisando que, para subir, era preciso pagar a passagem e estar calçado. A abolição da escravidão permitiu a todos usarem sapatos, surgindo uma nova profissão. O engraxate fez os pés da elite brilharem. A diferença social reinventava-se para atualizar demarcações.

O automóvel se mostrou perfeito para essa tarefa. O primeiro exemplar chegou a São Paulo em 1901, e o dono era Henrique Santos Dumont, irmão do aviador. Numa sociedade hierarquizada, o carro rapidamente virou símbolo de ascensão social, algo que se perpetua até hoje.

O psicólogo Jacob Goldberg identifica outra herança desses tempos: tratar espaços públicos como lugares a serem ocupados por quem chegou primeiro. Vale para a quadra do parque, o brinquedo infantil da praça, a mesa de xadrez na orla da praia e as ruas. No trânsito, a consequência é encarar os demais cidadãos como concorrentes. Ocorre que, quando adversários entram numa disputa, essa atitude aflora a agressividade.

TOUREANDO O TRÂNSITO
O psicólogo cita o exemplo das bicicletas. Lembra que em vários países ela serviu como instrumento de humanização, mas no Brasil o movimento em duas rodas foi acompanhado, entre erros e acertos, de conflitos com pedestres, skatistas e carros. A exemplo do antropológo Da Matta, Goldberg explica que séculos de hierarquização criaram um comportamento nacional padrão: quando um grupo sobe um degrau social, se considera merecedor de mais direitos - não que isso esteja necessariamente errado, dependendo de qual for o contexto da transformação.

"O sujeito pega a bicicleta e leva para calçada, anda na contramão. Isso é paradoxal. Uma bandeira civilizatória já avacalhou, já virou selvageria"
Roberto da Matta, antropólogo

Ativista do ciclismo e apresentadora do programa "Bike é Legal", na TV Gazeta paulistana, Renata Falzoni pensa diferente dos especialistas sobre a função humanizadora da bicicleta. Admite que há problemas, mas alega que são casos pontuais e não podem se usados para rotular um grupo. Ela declarou que os ciclistas estão aprendendo a dividir espaço com pedestres e a interação está tornando a sociedade mais cordial.

Mas o passado aristocrata tem outro reflexo nas ruas. A carteirada é uma tentativa de restabelecer os privilégios de outros tempos. O caso da agente de trânsito Luciana Tamborini é um exemplo. Ela parou uma Land Rover sem placas numa blitz da lei seca no Rio de Janeiro em março de 2013. O motorista era o juiz João Carlos de Souza Correia, que além de se negar a fazer teste de bafômetro, estava sem documento do veículo e a carteira de habilitação. Foi multado e levou o caso à Justiça.

Foi nesse contexto que o desembargador José Carlos Paes entendeu que houve abuso de poder por parte de Luciana. Quando o infrator alegou que era juiz, ela ignorou a carteirada e tascou a multa, respondendo que o motorista poderia ser juiz, mas não era Deus. Acabou condenada a pagar uma indenização de R$ 5.000.

ORGULHO E PRECONCEITO
O incentivo ao mau comportamento no trânsito não é, claro, exclusividade do Brasil da época da família real. Ele recebeu reforços ao longo do período republicano. Goldberg menciona o governo Juscelino Kubitschek, que entrou na onda do movimento batizado de "americanalhada" - o neologismo serve para o ato de usar o carro como prova de triunfo profissional e superioridade sobre amigos e parentes.

Essa importação teve reflexos na música, desde Roberto Carlos até o funk ostentação, exaltando as "naves", palavra usada pelos MCs para se referirem aos carros. E não faltam exemplos pelo mundo. Filmes com perseguições de automóveis e mulheres se derretendo por machões em superesportivos são mais do que um clichê - tratam da simbologia fálica dessas máquinas.

A visão de superioridade em desrespeitar as leis tem outro desdobramento numa sociedade que historicamente privilegiou os homens. Como o poder sempre foi masculino, para se sentir vencedora a mulher incorpora esse personagem quando está ao volante. Copia comportamentos como dirigir acima da velocidade, forçar ultrapassagens e xingar. Num país que só deu vez aos homens por séculos, a suavidade e delicadeza viraram sinais de fraqueza.

Discutir as raízes do Brasil ainda remete ao mito do homem cordial, definição de Sérgio Buarque de Holanda. Doutora em Antropologia, a pesquisadora da FGV (Fundação Getulio Vargas) Margareth da Luz explica que esse personagem podia ser bastante afável, mas também muito cruel.

No tempo do Império, o mesmo senhor que demonstrava alguma humanidade a criados domésticos mandava açoitar qualquer "desobediente" da senzala. Hoje, um cidadão pode ser amoroso em família e desrespeitoso na rua. O caráter agressivo do trânsito é um espaço propício para o lado violento florescer.

Mas o brasileiro não se importa com a brutalidade existente nas ruas e estradas. Ele considera o trânsito um problema por causa das filas, não pelas mortes.

Especialista em trânsito e integrante do Conselho Federal de Psicologia, João Alchieri ajuda a entender tamanha indiferença. Ele explica que as pessoas não mensuram o que significa 42 mil mortes ano em acidentes e sugere a criação de campanhas que deem nome, cara e história às vítimas - assim, diz Alchieri, há maior chance da sociedade se identificar com o problema.

Ele cita o caso da crise dos refugiados na Europa, tratados como números até a foto de Aylan Kurdi, 3, encontrado morto numa praia da Turquia, ganhasse gigantesca repercussão. A imagem fez o mundo entender que o assunto dizia respeito a seres humanos, não a estatísticas.

Alchieri conta que essa impessoalidade se repete no trânsito. Explica que, com um carro trafegando acima de 60 km/h, fica impossível olhar no olho do motorista. A relação desta interação humana é totalmente fria. O contato pode mudar essa relação.

Quem dirige sabe a diferença que faz quando uma pessoa acena com a mão pedindo para mudar de faixa. A leitura da expressão corporal e facial sugere empatia e a facilitação da manobra. Depois, rola aquela buzinadinha curta e simpática de agradecimento.

Situação bem diferente de alguém forçar para entrar na frente de um veículo. Nessas condições, a reação se dá na buzina do motorista prejudicado, que é longa e sonora.

GENTILEZA GERA GENTILEZA
O Código de Trânsito Brasileiro é moderno e adequado para lidar com a situação vivida nas vias do país, avalia Mauricio Januzzi Santos, presidente da Comissão de Direito Viário da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil). A única mudança defendida pelo especialista é enquadrar algumas atitudes no Código Penal e não na legislação de trânsito.

Para ele, fazer pega (ou racha), dirigir embriagado, sob efeito de drogas ou acima de 50% do limite de velocidade deveria ser classificado como crime e não como mera infração que acarreta em multa e pontos na carteira. Há processos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo essa mudança. Mas a tendência, segundo Januzzi, é que essa ideia seja rejeitada. A alternativa seria mexer na legislação.

Na Europa e alguns estados norte-americanos o processo já funciona dessa maneira, afirma Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral. Pesquisador da área, ele menciona uma descoberta que ajuda a entender a cabeça do motorista brasileiro.

Desde o processo de concessão, iniciado na década de 1990, as rodovias que cortam São Paulo estão em bom estado. Vendo que a estrada é duplicada e sem "crateras", os motoristas apertaram com gosto o acelerador. Resende conta que aumentaram muito os acidentes provocados por excesso de velocidade: capotamento, saída de pista e colisão com objetos localizados às margens do asfalto como muretas, árvores e placas.

A partir do momento em que os motoristas enxergarem numa rodovia em boas condições apenas uma forma segura de viajar, e não um convite a acelerar, é porque algo mudou na mentalidade do brasileiro. Respeitar a lei acarreta menos vítimas. Se é a lógica da desigualdade e a hierarquização que causam tantas mortes, a redução desses números mostrará que houve avanços no conjunto da sociedade. Não será somente no trânsito que as regras valerão para todo mundo.

Fonte: UOL
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Vintage Brasil


Per chi fosse interessato a film brasiliani, molti conosciuti anche in Italia, segnalo un blog di Riccardo, Vintage Brasil. Secondo la sua descrizione "...tratta di cinema, letteratura, musica brasiliana, soprattutto del passato. Purtuttavia, ho compilato schede su famosi film brasiliani (noti anche in Italia) con descrizioni delle locations talmente particolareggiate che ritengo possano servire anche per eventuale attività di cine-turismo per chi si recasse in quei luoghi, in vacanza o per altri motivi."

Questo il LINK.
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No último círculo do inferno


Penso che sia una delle migliori presentazioni del Brasile odierno.

Di Clóvis Rossi

Se Dante Alighieri fosse um cronista da realidade brasileira diria que o Brasil chegou ao último círculo do inferno. 

Eu, que conheço a realidade brasileira melhor do que ele, temo que seja possível afundar ainda mais. 

É o que insinua, por exemplo, a pesquisa do Datafolha sobre a posição dos deputados a respeito do impeachment : hoje por hoje, não há número suficiente nem para aprovar o afastamento de Dilma Rousseff nem para barrá-lo. 

Se essa situação se mantiver na hora da votação em plenário, ficaríamos assim: a oposição sem força para derrubar o governo, por sua vez sem força para governar, em minoria no Congresso e na sociedade. 

Por si só, já seria o penúltimo círculo do inferno, mas há que se acrescentar o panorama socioeconômico, caracterizado pelo que o banqueiro Roberto Setúbal define, adequadamente, como a maior recessão em um século e suas inescapáveis consequências (aumento do desemprego e da pobreza). 

Desceríamos pois um degrau no inferno. 

Segundo me diz gente do governo, o impeachment passará na comissão que o avalia. É natural: nela basta a maioria simples. 

Já no plenário, sempre segundo o que se ouve no governo, a coisa está "infernalmente complicada". 

Meu palpite, tão bom ou tão ruim quanto qualquer outro: repetir-se-á, no caso do impeachment, o que aconteceu na votação da emenda das Diretas Já, em 1984. A maioria votou pela emenda, mas faltaram 22 votos para que ela alcançasse os dois terços necessários. 

Se esse palpite estiver certo, Dilma fica e, com ela, fica o inferno. 

A oposição, enraivecida até o ódio, aliás devolvido pela situação, não se conformará e continuará na rua; Eduardo Cunha liberará outras propostas pelo impeachment; o processo de cassação da chapa Dilma/Temer será apressado por um TSE agora presidido por Gilmar Mendes, chefe da oposição no Judiciário. 

Enquanto isso, fora da ruína que é o universo da política, a crise continuará corroendo a vida do brasileiro, até porque "o governo da economia é um assunto morto", como escreveu na sexta-feira (8) esse excelente Vinicius Torres Freire. 

Continuará morto depois da votação do impeachment, mesmo com resultado favorável, porque, primeiro, a prioridade do governismo continuará sendo evitar a sua morte política e, segundo, porque já ficou demonstrado que não tem capacidade para reverter o infernal cenário econômico. 

Mesmo na hipótese de que o impeachment passe, o que produzirá algum alívio entre agentes de mercado e líderes empresariais, o inferno não ficará para trás. 

Primeiro porque Michel Temer, o sucessor, também será acossado por processos legais, entre eles o de seu próprio impeachment. E, segundo, porque o seu projeto econômico soa muito como o austericídio adotado na Europa e que provocou substancial devastação social. 

Sem falar que Temer não tem o apoio social suficiente para comandar o país em situação infernal. 
Repito: só eleição é o caminho. Talvez seja uma utopia, mas é sempre melhor que o inferno. 

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Morei fora e agora voltei para um país que não reconheço


È inutile. L'unico modo per conoscere il Brasile é andare via per un tempo e poi tornare. Solo vivendo in un altro paese, con un'altra cultura, altre idee e abitudini si può notare quante cose sbagliate vi siano in questo paese. Tutti, ma proprio tutti i brasiliani che conosco e che, in qualche modo, vivono all'estero, non tornerebbero mai in Brasile. Certo, hanno molta "saudade" della propria famiglia, del proprio paese, ma se chiedete a loro se ritornerebbero a vivere nella loro città d'origine ti risponderanno di no. Ovviamente puoi trovare qualche idiota che solo parli male del paese in cui vive, ma per fortuna sono molto pochi. La maggior parte, quelli con un minimo di cervello e di coscienza, si rendono conto che la vita, il modo di vivere, di pensare, di lavorare, di interagire con gli altri qui in Brasile non é certamente dei migliori. Questa loro importante esperienza in un nuovo paese ha fatto sí che aprissero gli occhi e vedessero, finalmente, che il Brasile non é il centro del mondo come molti pensano. Tutti i brasiliani che affermano che il Brasile sia un paese bellissimo, che abbia questo e quello, che anche negli altri paesi le cose non sono diverse, sono quelli che non sono mai usciti da questo paese, al limite solo per fare un piccolo viaggio di qualche settimana. Io ormai non discuto più con queste persone, non cerco di fargli capire che la vita in qualunque paese europeo é ben diversa da quella brasiliana. È solo tempo perso. Non potrebbero e, cosa più triste, non vogliono capire.

Questo é un post scritto da un brasiliano che ha vissuto a Londra per alcuni anni, poi é tornato in Brasile. È uno dei tanti racconti che si trovano in rete, di persone che hanno avuto la fortuna di vivere all'estero per alcuni anni e che hanno aperto gli occhi e la mente su una realtà che molti non vogliono nemmeno sapere che esista.

Marcus Afonso passou dois anos em Londres e, ao voltar, sentiu um choque cultural às avessas.
por Marcus Afonso

Em 2012, deixei o Brasil para ir estudar em Londres por dois anos. Naquela época, o nosso país era uma promessa e eu queria estar bem preparado para aproveitar todo aquele potencial, além de contribuir com o meu país para um crescimento global. Por isso, fui buscar no Reino Unido um pouco daquela educação e cultura acadêmica que eles criaram ao longo de sua história.

Dividindo uma sala de aula com estudantes de mais de 30 nacionalidades, lembro o quanto eu era demandado pelos meus colegas com perguntas sobre o país, que unia tanta evolução com tanta beleza natural. O que ilustrou uma das primeiras aulas que eu tive, de Relações Públicas, foi a capa da The Economist com o Cristo Redentor decolando. Não poderia haver orgulho maior para um carioca que havia sido criado com o temor da violência e sob um título de país subdesenvolvido.

Com o passar do tempo, vi que levaria do Reino Unido muito mais que as teorias do mestrado que tinha ido buscar. O dia-a-dia britânico foi me ensinando muito, não pela sua sofisticação e requinte, mas justamente por sua simplicidade. Aliás, o glamour daquele país estava exatamente nisso: em permitir a todos a mesma qualidade de vida a que a “elite” tem acesso.

Como estudante, assim como cidadãos de diversas classes sociais, eu me deslocava pela cidade no mesmo metrô que o Primeiro Ministro David Cameron usava para ir trabalhar. Kate Middleton estampava a capa das revistas com o mesmo vestido que a minha esposa havia comprado em uma loja popular do país. O filho do príncipe William nascia no mesmo hospital no qual nós eramos atendidos pelo NHS, o sistema público de saúde. Definitivamente, aquilo sim era luxo!

Em 2013, no meu segundo ano por lá, vi a imagem do Brasil, infelizmente, começar a desmoronar. No mesmo dia em que fiquei surpreso ao receber uma carta do sistema de transporte público londrino informando sobre o investimento que estavam fazendo em novos ônibus, assisti à primeira manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público no Brasil. A passagem ia aumentar, mas o conforto e a segurança iriam continuar precários.

A mesma The Economist, que tinha me gerado tanto orgulho, já mostrava que aquele Cristo Redentor decolando tinha sido apenas um sonho

O próprio real já simbolizava esta queda e, assim que terminei o curso, voltei para o Brasil, pois a drástica desvalorização da nossa moeda estava deixando aquele custo de vida insustentável.

Ao chegar aqui, senti todo o choque cultural que não senti ao me mudar daqui para Londres. Voltei para um país que eu não reconheço, com valores que não são meus. Como publicitário, comecei a reparar na quantidade de vezes que via a palavra “exclusivo” nas peças publicitárias que ilustravam as principais mídias. Impressionante como aquilo gerava tanto valor para as marcas e produtos — e era tão antagônico aos valores que passei a apreciar ainda mais morando em Londres, tais como inclusão e coletividade.

Ao retornar ao ambiente de trabalho, vi como isso se confirmava. Os carrões que encontrei no estacionamento do escritório não condiziam com os cargos e salários dos meus colegas, mas eles traziam um status que parecia ser fundamental para as suas posições na empresa.

Por outro lado, todo aquele investimento que as pessoas faziam em um bem que iria apenas se desvalorizar, não era feito para bens muito mais valiosos. Por exemplo, no Reino Unido é muito comum que as mães dediquem um ano exclusivamente ao seu filho e tem até quem prefira começar a trabalhar por meio período para poder se dedicar a eles. Aqui no Brasil, vi que isso não é muito bem aceito e presenciei muitas mulheres entregando seus bebês de quatro meses aos cuidados de creches e babás e arcando com estes custos que eram quase equivalentes aos seus salários.

Brasil, como podemos deixar que os nossos valores sejam criados ou manipulados por modismos?
Aqui, no ambiente de trabalho, recrutadores estão em busca apenas de “líderes”, seja para a posição do estagiário ou do diretor

Em todas as dinâmicas de grupo que participei, vi que se destacavam os que sabiam delegar e se impor, ainda que esta não fosse a função do candidato na empresa! As características analíticas ou de colaborativismo não eram sequer percebidas, até por não serem facilmente detectadas em apenas uma ou duas horas de um processo seletivo, mas não eram buscadas.

Definitivamente, não são estes valores que vou querer oferecer aos meu filhos. Quero que eles cresçam na liberdade de um parque com crianças que tenham culturas e histórias diferentes das deles — e não em um condomínio ou clube exclusivo e fechado onde tenham de ostentar determinadas marcas de roupas ou brinquedos para serem bem aceitos. Quero que eles deem às aulas de música ou de teatro o mesmo valor das aulas de matemática ou de inglês.

Quero que eles aprendam a liderar times ou projetos depois de terem contribuído de forma colaborativa para muitos deles — e não que já nasçam sabendo como fazer isso, pois eles não saberão valorizar o esforço de cada um que participa de todo o processo.

Uma das grandes lições que trouxe comigo daquele país acadêmico é a nossa capacidade de questionar e conflitar as teorias e mensagens que nos são passadas e não apenas aceitar passivamente a informação que teve mais destaque. Este é, sem dúvida, o primeiro passo para a nossa constante evolução, que deve estar sempre embasada nos nossos verdadeiros valores.

Marcus Afonso, 29, é publicitário formado pela ESPM e acaba de retornar de um mestrado em Marketing pela University of Westminser. Carioca, é casado com Vanessa Rodrigues, economista, mora em São Paulo.

Fonte: DRAFT
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Sem comodidades


Un post di Anelise, una brasiliana che vive a Roma da alcuni anni.

Como é viver na Itália sem a preciosa colaboração de uma empregada doméstica ou sem outras comodidades?

Durante minhas últimas férias no Brasil aproveitei para devorar o calendário cultural de São Paulo. Assisti diversos filmes e, entre eles, o longa Que horas ela volta, de Anna Muylaert.

Deixando de lado o balanço entre aqueles que aplaudiram e aqueles que discordam com a escolha do título para representar o Brasil na competição pelo Oscar (todas as opiniões são respeitáveis), gostaria de fazer algumas considerações sobre as questões abordadas pelo filme.

Uma parte da mídia nacional definiu Que horas ela volta um metafórico tapa na cara da classe média alta brasileira, mas porque os europeus escandalizaram-se diante desse retrato da nossa sociedade?

Conhecendo bem ambas as realidades, vou tentar traduzir em palavras o olhar perplexo e de desconforto que o filme gerou por aqui.

Para a maioria dos habitantes do velho continente, aquilo que os brasileiros consideram uma fisiológica relação assimétrica entre patroa e empregada é algo inconcebível que só alimenta um incompreensível abismo social. Em outros termos, uma realidade anacrônica e excessivamente opulenta.

Como explicar para um europeu decisões como aquelas de clubes paulistanos que exigiram que babás usassem uniformes rigorosamente brancos?

Desculpem, mas nenhuma medida de segurança justifica a necessidade de traduzir nas roupas uma distinção social. De onde nasce a exigência de reforçar o próprio status?

Muitos compatriotas sonham com a possibilidade de viver no exterior, em um país mais seguro, mas aqui, no velho continente, o padrão de vida de um italiano médio é menos glamoroso e muito distante do modelo adotado pela elite brasileira.

Isso explica a reação de muitos estrangeiros diante das cenas do filme.

Com exceção de políticos e poucos ricos, não há uma grande disparidade de salários entre os componentes da classe média italiana, aquela que representa a maior parte da população do país. Isso comporta uma vida mais modesta e sustentável, mas nem por isso mais infeliz.

Em vez de passar horas em shoppings é comum fazer piqueniques em parques, aproveitar os finais de semana com ingressos gratuitos em museus ou optar por outros programas bem mais econômicos.

Na Itália não é comum organizar festas infantis com excessos. No dia do aniversário da criança as mães simplesmente combinam com a professora de levar um bolo ou pizza em pedaços para festejar a data com os colegas, na hora da merenda.

Por aqui babás e empregadas domésticas cobram pelo número de horas de serviço e se a faxineira é paga para limpar não tem nenhuma obrigação de antecipar o jantar da patroa.

A maior parte dos europeus de classe média está acostumada a limpar a própria casa, a abastecer o próprio carro, a passar a sua roupa ou cozinhar sua própria comida.

Em Roma poucos prédios possuem estacionamento e manobristas só vejo diante de hotéis cinco estrelas. Condomínios com piscina ou academia idem.

Mão de obra especializada custa e se você precisar dos serviços de um hidráulico ou de um pedreiro não espere pagar poucos euros por isso.

Todas as profissões são consideradas dignas e ninguém aqui torceria o nariz, como acontece no filme, se a faxineira se sentasse na mesa da patroa.

Hábitos como trocar de carro todos os anos, frequentar a manicure toda semana, sair para jantar fora todos os sábados e domingos ou comprar dezenas de roupas novas a cada estação são pouco frequentes. Muitos cidadãos italianos esperam as liquidações de verão e inverno para renovar algumas peças no guarda-roupa.

A maioria dos homens e mulheres compartilham tarefas domésticas e dedicam-se aos filhos sem que isso comporte problemas.

Não é uma sociedade idílica e perfeita.

Aqui também há corrupção, nepotismo, sonegação de impostos, subempregos – como aqueles reservados a muitos imigrantes – e outras mazelas sociais.

A diferença é que não há um fosso social entre ricos e pobres. Nenhum cidadão precisa financiar em diversas prestações a compra de um bem de largo consumo, como um par de sapatos, enquanto poucos eleitos evitam o trânsito da cidade descolcando-se em helicópteros.

Minha intenção não é desrespeitar ninguém, criar uma discussão estéril e muito menos generalizar. Cada um é livre para gastar o dinheiro conquistado com o próprio trabalho honesto da maneira que preferir.

O problema é quando a desigualdade é tanta que gera mundos paralelos como aqueles evidenciados pela diretora Muylaert. Uma desigualdade que, aos olhos de muitos estrangeiros, beiram o constrangimento.

Fonte: post-italy
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