Sem comodidades


Un post di Anelise, una brasiliana che vive a Roma da alcuni anni.

Como é viver na Itália sem a preciosa colaboração de uma empregada doméstica ou sem outras comodidades?

Durante minhas últimas férias no Brasil aproveitei para devorar o calendário cultural de São Paulo. Assisti diversos filmes e, entre eles, o longa Que horas ela volta, de Anna Muylaert.

Deixando de lado o balanço entre aqueles que aplaudiram e aqueles que discordam com a escolha do título para representar o Brasil na competição pelo Oscar (todas as opiniões são respeitáveis), gostaria de fazer algumas considerações sobre as questões abordadas pelo filme.

Uma parte da mídia nacional definiu Que horas ela volta um metafórico tapa na cara da classe média alta brasileira, mas porque os europeus escandalizaram-se diante desse retrato da nossa sociedade?

Conhecendo bem ambas as realidades, vou tentar traduzir em palavras o olhar perplexo e de desconforto que o filme gerou por aqui.

Para a maioria dos habitantes do velho continente, aquilo que os brasileiros consideram uma fisiológica relação assimétrica entre patroa e empregada é algo inconcebível que só alimenta um incompreensível abismo social. Em outros termos, uma realidade anacrônica e excessivamente opulenta.

Como explicar para um europeu decisões como aquelas de clubes paulistanos que exigiram que babás usassem uniformes rigorosamente brancos?

Desculpem, mas nenhuma medida de segurança justifica a necessidade de traduzir nas roupas uma distinção social. De onde nasce a exigência de reforçar o próprio status?

Muitos compatriotas sonham com a possibilidade de viver no exterior, em um país mais seguro, mas aqui, no velho continente, o padrão de vida de um italiano médio é menos glamoroso e muito distante do modelo adotado pela elite brasileira.

Isso explica a reação de muitos estrangeiros diante das cenas do filme.

Com exceção de políticos e poucos ricos, não há uma grande disparidade de salários entre os componentes da classe média italiana, aquela que representa a maior parte da população do país. Isso comporta uma vida mais modesta e sustentável, mas nem por isso mais infeliz.

Em vez de passar horas em shoppings é comum fazer piqueniques em parques, aproveitar os finais de semana com ingressos gratuitos em museus ou optar por outros programas bem mais econômicos.

Na Itália não é comum organizar festas infantis com excessos. No dia do aniversário da criança as mães simplesmente combinam com a professora de levar um bolo ou pizza em pedaços para festejar a data com os colegas, na hora da merenda.

Por aqui babás e empregadas domésticas cobram pelo número de horas de serviço e se a faxineira é paga para limpar não tem nenhuma obrigação de antecipar o jantar da patroa.

A maior parte dos europeus de classe média está acostumada a limpar a própria casa, a abastecer o próprio carro, a passar a sua roupa ou cozinhar sua própria comida.

Em Roma poucos prédios possuem estacionamento e manobristas só vejo diante de hotéis cinco estrelas. Condomínios com piscina ou academia idem.

Mão de obra especializada custa e se você precisar dos serviços de um hidráulico ou de um pedreiro não espere pagar poucos euros por isso.

Todas as profissões são consideradas dignas e ninguém aqui torceria o nariz, como acontece no filme, se a faxineira se sentasse na mesa da patroa.

Hábitos como trocar de carro todos os anos, frequentar a manicure toda semana, sair para jantar fora todos os sábados e domingos ou comprar dezenas de roupas novas a cada estação são pouco frequentes. Muitos cidadãos italianos esperam as liquidações de verão e inverno para renovar algumas peças no guarda-roupa.

A maioria dos homens e mulheres compartilham tarefas domésticas e dedicam-se aos filhos sem que isso comporte problemas.

Não é uma sociedade idílica e perfeita.

Aqui também há corrupção, nepotismo, sonegação de impostos, subempregos – como aqueles reservados a muitos imigrantes – e outras mazelas sociais.

A diferença é que não há um fosso social entre ricos e pobres. Nenhum cidadão precisa financiar em diversas prestações a compra de um bem de largo consumo, como um par de sapatos, enquanto poucos eleitos evitam o trânsito da cidade descolcando-se em helicópteros.

Minha intenção não é desrespeitar ninguém, criar uma discussão estéril e muito menos generalizar. Cada um é livre para gastar o dinheiro conquistado com o próprio trabalho honesto da maneira que preferir.

O problema é quando a desigualdade é tanta que gera mundos paralelos como aqueles evidenciados pela diretora Muylaert. Uma desigualdade que, aos olhos de muitos estrangeiros, beiram o constrangimento.

Fonte: post-italy
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